As Bibliotecas UFU convidam toda a comunidade acadêmica e o público em geral para a palestra “A desinformação contemporânea à luz de uma perspectiva interdisciplinar”, que será ministrada por Geovane Souza Melo Junior e Nelson Marcos Ferreira.

Esta comunicação lê a desinformação contemporânea como sintoma de uma crise epistemológica de longa duração, cuja reatualização tecnológica conjuga dilemas clássicos sobre verdade, poder e linguagem a vetores econômicos e psíquicos próprios do capitalismo hodierno de plataformas. A partir da economia política dos dados e da atenção, a informação passa a funcionar como mercadoria: algoritmos, segmentação e modelos de monetização favorecem a circulação e a rentabilização de discursos de ódio, corroendo o espaço público.

No plano epistemológico, propõe-se uma genealogia do saber, do aêdo ao filósofo e ao historiador, para mostrar como a modernidade, ao absolutizar a razão instrumental, alcançou rigor técnico às custas da densidade simbólica e narratológica do conhecimento. Essa perda possibilita que formas de enunciação superficiais e performativas se apresentem como “verdade” sem prestar-se ao exame crítico ou à experiência.

O eixo literário e histórico exemplifica essa dinâmica por meio do escritor judeu Stefan Zweig. Testemunha do avanço da propaganda nazista, torna-se patente como a captura da palavra pelo aparato estatal nazifascista destrói a vida coletiva, favorecendo a morte e a guerra. O pacifismo e humanismo de Zweig articulam-se uma resposta ética possível a esse cenário de catástrofe. A afinidade intelectual e pessoal de Zweig com Sigmund Freud reforça a passagem para o eixo psicanalítico.

No plano psicanalítico, a formulação freudiana sobre psicologia das massas ilumina os mecanismos pelos quais narrativas exploram identificação, sugestão e projeção, produzindo adesões afetivas que suplantam a noção do homem cartesiano. A psicanálise pode fornecer, portanto, ferramentas para compreender por que grupos aceitam e reproduzem desinformação e como o laço social se deteriora quando a linguagem deixa de mediar experiência e sentido.

Por fim, defendemos que a resposta à desinformação exige um arranjo interdisciplinar. Medidas regulatórias e alfabetização digital são necessárias, mas insuficientes. Impõem-se também reformas econômicas que desincentivem a monetização predatória da mentira e políticas culturais que restituam ao discurso sua função relacional da pólis democrática.

Data: 24 de novembro (segunda-feira)
Horário: 14h
Local: https://conferenciaweb.rnp.br/ufu/pci

Haverá emissão de certificado de participação!

Palestrantes

Geovane Souza Melo Junior
Pós-doutorando no Departamento de Letras Orientais da Universidade de São Paulo (USP), na linha de pesquisa “Cultura, História e Sociedade”. Doutor em Letras – Estudos Literários pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Bacharel em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Membro do Grupo de Pesquisa Laboratório dos Estudos Judaicos (LEJ/UFU) e do Grupo de Estudos Stefan Zweig (GESZ). Atua nas áreas de Literatura e Psicologia, com ênfase em Psicanálise, e possui publicações em artigos e capítulos de livros. 

Nelson Marcos Ferreira
Bibliotecário documentalista da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Mestre em Educação Profissional pelo Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM). Pós-graduado em Docência do Ensino Superior pela Faculdade Internacional Signorelli e bacharel em Biblioteconomia pelo Centro Universitário de Formiga. Foi coordenador da Divisão de Informatização do Sistema de Bibliotecas da UFU (2018–2021) e gerente do Setor de Catalogação e Classificação (2014–2015; 2017–2018). Atuou como consultor, tutor e instrutor em cursos voltados à automação e catalogação de bibliotecas, além de palestrante convidado em eventos da área.

Mediação

Sarah Cristina Maria Ferreira
Bibliotecária documentalista da UFU. Mestre em Educação Profissional e Tecnológica (2025) pelo Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM). Especialista em Gestão em Biblioteconomia (2007) e em Biblioteconomia (2021).